14 de dez. de 2010

Talmude

O Talmude (em hebraico: תַּלְמוּד, transl. Talmud) é um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo. É um texto central para o judaísmo rabínico, perdendo em importância apenas para a Bíblia hebraica.
O Talmude tem dois componentes: a Mixná (c. 200 d.C.), o primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará (c. 500 d.C.), uma discussão da Mixná e dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos, e são expostos amplamente no Tanakh.
O Mishná foi redigido pelos mestres chamados Tannaim ("tanaítas"), termo que deriva da palavra hebraica que significa "ensinar" ou "transmitir uma tradição". Os tanaítas viveram entre o século I e o III d.C. A primeira codificação é atribuída a Rabi Akiva (50130), e uma segunda, a Rabi Meir (entre 130 e 160 d.C.), ambas as versões tendo sido escritas no atual idioma aramaico, ainda em uso no interior da Síria.
Os termos Talmud e Gemarah são utilizados frequentemente de maneira intercambiável. A Guemará é a base de todos os códigos da lei rabínica, e é muito citada no resto da literatura rabínica; já o Talmude também é chamado frequentemente de Shas (hebraico: ש"ס), uma abreviação em hebraico de shisha sedarim, as "seis ordens" da Mixná.

Lei oral

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Primeira página da edição de Vilna do Tractate Berachot, Talmude babilônico, folio 2a.
Originalmente, o estudo acadêmico do judaísmo era oral. Os rabinos expunham e debatiam a lei (isto é, a Bíblia hebraica) e discutiam o Tanakh sem o benefício das obras escritas (além dos próprios livros bíblicos), embora alguns possam ter feito anotações privadas (megillot setarim), por exemplo, a respeito das decisões de cortes. A situação se mudou drasticamente, no entanto, principalmente como resultado da destruição da comunidade judaica no ano de 70 d.C., e os consequentes distúrbios nas normas legais e sociais judaicas. À medida que os rabinos foram forçados a encarar uma nova realidade — principalmente a dum judaísmo sem um Templo (para servir como centro de estudo e ensino) e uma Judéia sem autonomia — surgiu uma enxurrada de discursos legais, e o antigo sistema de estudiosidade oral não pôde ser mantida. Foi durante este período que o discurdo rabínico passou a ser registrado na escrita.[1][2] A primeira lei oral registrada pode ter sido na forma dos Midrash, na qual a discussão haláquica está estruturada como comentários exegéticos sobre o Pentateuco. Uma forma alternativa, porém, organizada pelos tópicos de assuntos, em vez dos versos bíblicos, tornou-se dominante por volta do ano 200 d.C., quando o rabino Judá HaNasi redigiu a Mixná (משנה).
A Lei Oral estava longe de ser monolítica ,variando enormemente entre diversas escolas. As duas mais famosas eram a Escola de Shammai e a Escola de Hillel. No geral, todas as opiniões, mesmo as não-normativas, eram registradas no Talmude.

 Mixná

A Mixná ou Míxena, também chamada de Mishná, é uma compilação de opiniões e debates legais. As declarações contidas na Mixná são tipicamente concisas, registrando as opiniões breves dos rabinos debatendo algum tópico, ou registram apenas um veredito anônimo, que aparentemente representava uma visão consensual. Os rabinos registrados na Mixná são chamados de Tannaim.
Na medida em que suas leis estão ordenadas pelo assunto dos tópicos, e não pelo conteúdo bíblico, e a Mixná discute cada assunto, individualmente, de maneira mais extensa que os Midrash, e inclui uma seleção muito maior de assuntos haláquicos. A organização da Mixná tornou-se, desta maneira, a estrutura do Talmude como um todo. Porém nem todos os tratados da Mixná possuem uma Guemará correspondente. Além disso, a ordem dos tratados do Talmude difere, em muitos casos, da do Mixná.

Baraita

Além da Mixná, outros ensinamentos tanaíticos eram correntes na mesma época, e por algum tempo depois. A Guemará frequentemente se refere a estas declarações tanaíticas, para compará-los àqueles contidos na Mixná e para apoiar ou refutar as proposições dos Amoraim. Todas estas fontes tanaíticas não-mixnaicas são denominadas de baraitot (singular baraita, ברייתא - literalmente "material de fora", se referindo às obras externas ao Mixná).
Os baraitot citados no Guemará são, frequentemente, citações da Toseftá (um compêndio tanaítico da Halaca, paralela à Mixná) e dos midrashim haláquicos especificamente Mekhilta, Sifra e Sifre. Alguns baraitot, no entanto, são conhecidos apenas por tradições citadas no Guemará, e não formam parte de qualquer outra coleção.

Guemará

Nos três séculos que se seguiram à redação da Mixná, os rabinos de Israel e da Babilônia analisaram, debateram e discutiram aquela obra. Estas discussões foram a Guemará (גמרא). A palavra significa "completude", em hebraico, do verbo gamar (גמר), "completar", "aprender". A Guemará se focaliza principalmente na elucidação e elaboração das opiniões dos Tannaim. Os rabinos do Guemará ficaram conhecidos como Amoraim (no singular Amora, אמורא).
Boa parte da Guemará consiste de análises legais. O ponto de partida para a análise é, costumeiramente, uma declaração legal existente em determinada Mixná. A declaração é então analisada e comparada com outras declarações, numa troca dialética entre dois disputantes (frequentemente anônimos, por vezes metafóricos), que são chamados de makshan ("questionador") e tartzan ("respondendor"). Outra função importante da Guemará é identificar a base bíblica correta para determinada lei apresentada na Mixná, assim como o processo lógico que a conecta com outra: esta atividade era conhecidade como talmud, muito antes da existência do Talmude como texto.
Estas trocas formam os componentes básicos da Guemará; o nome dado a cada passagem é sugya (סוגיא; plural sugyot). Uma Sugya costumeiramente contém uma elaboração cuidadosamente estudada e detalhada de uma declaração mixnaica.
Em determinada sugya, declarações escriturais, tanaíticas e amoraicas, são trazidos para reforçar as diversas opiniões. Ao fazê-lo, a Guemará levanta discordâncias semânticas entre os Tannaim e os Amoraim (frequentemente direcionando o ponto de vista para uma autoridade mais antiga, no sentido de como ele teria respondido a questão), e comparando as visões mixnaicas com as passagens da Baraitá. Raramente os debates são encerrados formalmente; em muitos casos, a palavra final determina a lei prática, embora existam diversas exceções a este princípio.

Halaca e Agadá

O Talmude contém um material vasto, que aborda assuntos de naturezas muito diversas. Tradicionalmente, as declarações talmúdicas podem ser classificadas em duas categorias amplas, as declarações haláquicas e agádicas. As declarações haláquicas são aquelas que se relacionam diretamente com as questões da prática e lei judaica (Halaca), enquanto as declarações agádicas são aquelas que não tem qualquer conteúdo legal, sendo de natureza mais exegética, homilética, ética ou histórica.

Bavli e Yerushalmi

O processo da Guemará continuou nos dois principais centros do academicismo judaico da época, na Terra de Israel e na cidade de Babilônia, grande centro da Mesopotâmia. De maneira correspondente, os dois corpos de análise se desenvolveram separadamente, e as duas obras do Talmude foram criadas. A compilação mais antiga é chamada de Talmude de Jerusalém (Talmud Yerushalmi). Foi compilado em Israel, durante o século IV d.C.. Já o Talmude Babilônico (Talmud Bavli), foi compilado ao redor do ano 500, embora tenha continuado a ser editado posteriormente. A palavra "Talmude", quando utilizada sem qualquer qualificação, costuma se referir ao Talmude Babilônico.

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